Bolsonaro fugiu para embaixada da Hungria logo após convocar ato na Paulista

No dia 12 de fevereiro, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) convocou um ato na Avenida Paulista, em São Paulo, para demonstrar sua força política. A publicação foi feita quatro dias após ele ser alvo de uma ação da Polícia Federal e poucas horas antes de ele fugir para a embaixada da Hungria, onde ficaria por dois dias impossibilitado de ser capturado pela PF.

O ex-presidente Jair Bolsonaro na embaixada da Hungria no Brasil. Foto: Reprodução

A convocação dos bolsonaristas foi publicada no X, antigo Twitter, às 18h34 daquele dia. Já o vídeo do sistema de segurança da embaixada mostra o ex-presidente entrando no local às 21h37.

No vídeo, o ex-chefe do Executivo pediu aos apoiadores que não levem faixas e cartazes “contra quem quer que seja”.

“No último domingo de fevereiro, dia 25, às 15h, estarei na Paulista realizando um ato pacífico em defesa do nosso Estado Democrático de Direito. Peço a todos vocês que compareçam trajando verde e amarelo. E mais do que isso: não compareçam com qualquer faixa ou cartaz contra quem quer que seja”, disse na ocasião.

A Operação Tempus Veritatis resultou na apreensão de seu passaporte e faz parte de uma investigação sobre a trama golpista liderada por Bolsonaro para permanecer no poder após a derrota eleitoral para Lula (PT).


Embaixada da Hungria dispensou funcionários antes de esconder Bolsonaro

Antes do ex-presidente Jair Bolsonaro se esconder na embaixada da Hungria no Brasil, funcionários do órgão foram dispensados sem nenhuma justificativa. Servidores relatam que os diplomatas não deram nenhuma explicação sobre o caso ou mencionaram a hospedagem do ex-mandatário. A informação é do ICL Notícias.

Miklós Halmai, embaixador húngaro, e o ex-presidente Jair Bolsonaro. Foto: reprodução

Ele ficou dois dias na embaixada, entre os dias 12 e 14 de fevereiro, após ter seu passaporte apreendido na operação Tempus Veritatis, da Polícia Federal. Na ocasião, o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orban, aliado de Bolsonaro, o defendeu e se referiu a ele como “patriota honesto”.

Caso fosse alvo de um mandado de prisão durante o período em que estava no local, agentes da Polícia Federal não poderiam capturá-lo, já que embaixadas são consideradas parte do território do país que representam.

A defesa de Bolsonaro afirmou que ele ficou hospedado na embaixada para “manter contato com país amigo”. “Quaisquer outras interpretações que extrapolem as informações aqui repassadas se constituem em evidente obra ficcional, sem relação com a realidade dos fatos e são, na prática, mais um rol de fake news”, dizem seus advogados.

Após convocação do Itamaraty, embaixador da Hungria silencia sobre abrigo a Bolsonaro

O Itamaraty convocou o embaixador da Hungria em Brasília, Miklos Halmai, para se explicar sobre os dias em que escondeu o ex-presidente Jair Bolsonaro na sede do órgão diplomático. Ele foi recebido pela chefe do Ministério das Relações Exteriores que trata da Europa, Luisa Escorel, que criticou sua atuação no episódio. A informação é da coluna de Jamil Chade no UOL.

O ex-presidente Jair Bolsonaro e o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orban. Foto: Getty Images

A reunião com o embaixador durou cerca de 20 minutos e Halmai se manteve em silêncio, apenas ouvindo as reprimendas da diplomata brasileira. A suspeita do Itamaraty é que ele tenha combinado explicações com a defesa do ex-presidente.

Fontes do serviço diplomático brasileiro afirmam que o embaixador é ideologicamente identificado com as posições do primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orban, de extrema-direita e, consequentemente, com Jair Bolsonaro. O premiê do país tem uma relação próxima há anos com o inelegível.

O embaixador da Hungria no Brasil, Miklos Halmai. Foto: Reprodução

A convocação de um embaixador é tida como uma forma de pedir esclarecimentos e mandar uma mensagem ao governo do país estrangeiro sobre uma ação. No caso de Bolsonaro, o governo avalia que o gesto foi uma intromissão em assuntos domésticos, algo proibido nas regras diplomáticas.

Essa não é a primeira vez que Halmai gera uma crise diplomática entre os países nos bastidores. Poucos dias antes da hospedagem de Bolsonaro na embaixada, o Itamaraty já havia feito um alerta a diplomatas húngaros e criticado a intromissão de autoridades de Budapeste em temas de política doméstica.

Na ocasião, em fevereiro, Orban havia feito uma publicação nas redes sociais manifestando apoio a Bolsonaro após ele ser alvo da operação Tempus Veritatis, da Polícia Federal, que apreendeu seu passaporte. “Um patriota honesto. Continue lutando, senhor presidente”, afirmou o premiê húngaro na data.

Post do primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orban, após operação da PF contra o ex-presidente Jair Bolsonaro. Foto: Reprodução

Mais cedo, durante evento do PL em São Paulo, Bolsonaro afirmou que faz visitas frequentes a embaixadores “para manter boas relações internacionais”. “Muitas vezes esses chefes de Estado ligam para mim, para que eu possa prestar informações precisas do que acontece em nosso Brasil. Frequento embaixadas também aqui pelo nosso Brasil, converso com os embaixadores”, alegou o ex-presidente.

Após a revelação do episódio pelo New York Times, a Polícia Federal estuda pedir medidas cautelares contra o ex-presidente, incluindo o uso de tornozeleira eletrônica, e ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) avaliam pedir sua prisão preventiva.


Fonte: DCM

Postagem Anterior Próxima Postagem