Bolsonaro está no centro da tentativa de golpe de Estado, segundo depoimentos à PF

Os depoimentos prestados à Polícia Federal sobre a suposta tentativa de golpe de Estado para manter Jair Bolsonaro (PL) no poder após as eleições de 2022 trouxeram à tona detalhes surpreendentes. Os relatos, agora disponibilizados ao público após a derrubada do sigilo pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, destacam o papel central do ex-presidente e revelam a reação dos militares diante da trama golpista.

Segundo os depoimentos dos ex-comandantes das Forças Armadas, o general Marco Antonio Freire Gomes, ex-comandante do Exército, e do tenente-brigadeiro Carlos Baptista Júnior, da Aeronáutica, Bolsonaro conduziu reuniões com a cúpula militar para discutir a viabilidade jurídica do golpe e apresentar documentos com teor golpista. Os relatos colocam Bolsonaro no epicentro da conspiração.

Durante as investigações, a PF encontrou diversos documentos que teriam sido discutidos pelo núcleo do governo. Entre eles, destaca-se uma minuta de decreto para instaurar Estado de Defesa no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), encontrada na casa do ex-ministro da Justiça Anderson Torres em janeiro de 2023.

Outro documento, encontrado no celular de Mauro Cid em junho de 2023, sustenta que a ruptura do Estado Democrático de Direito estaria “dentro das quatro linhas da Constituição”, declarando o estabelecimento de Estado de Sítio e uma operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO).


Os depoimentos destacam a recusa dos militares em aderir à trama golpista. Freire Gomes, afirmou que se negou a participar da tentativa de golpe, apesar da pressão sofrida. Ele deixou claro que o Exército não aceitaria atos de ruptura institucional. Carlos de Almeida Baptista Júnior também se posicionou contra as articulações para o golpe e relatou que deixou evidente que não participaria de nenhum plano golpista.

Diferente dos colegas de Exército e Aeronáutica, o almirante Almir Garnier, então comandante da Marinha, teria aderido ao plano golpista e, assim como outras pessoas próximas a Bolsonaro.

Segundo os depoimentos, a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) e o general Augusto Heleno, ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) teriam feito pressão para que as Forças Armadas respaldassem o golpe de Estado.

Os relatos também mencionam pressões sobre os militares que se opuseram ao golpe. Freire Gomes afirmou ter sido alvo de ataques de apoiadores de Bolsonaro, incluindo o ex-ministro da Defesa, Braga Netto.

Valdemar Costa Neto, presidente do Partido Liberal, foi questionado sobre a postura do partido em relação às suspeitas levantadas por Bolsonaro sobre as eleições de 2022. Ele afirmou que o PL contratou uma consultoria para fiscalizar, não para questionar o resultado eleitoral, e que sempre descartou os documentos recebidos por serem apócrifos.

Depoimentos de militares complicam situação de Bolsonaro em trama golpista, avaliam ministros do STF

Ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) avaliam que os depoimentos concedidos à Polícia Federal (PF) pelos ex-comandantes Marco Antônio Freire Gomes, do Exército, e Carlos de Almeida Baptista Júnior, da Aeronáutica, fortalecem as implicações envolvendo o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em uma suposta trama golpista.

Segundo informações do Globo, três magistrados da Corte afirmaram que os esclarecimentos fornecidos pelos militares de alta patente, que rejeitaram as ideias de ruptura institucional, complicam a situação do ex-mandatário.

Para eles, os depoimentos indicam a tentativa de Bolsonaro de interferir no processo eleitoral e no resultado das urnas. Os ministros do STF consideram os relatos dos militares como elementos “fortes” que fazem avançar as investigações.

Na última sexta-feira (15), o ministro do STF Alexandre de Moraes, relator do caso, levantou o sigilo dos depoimentos, argumentando que diversos trechos já haviam sido divulgados pela imprensa.

O general Freire Gomes revelou à PF que Bolsonaro discutiu possibilidades de “utilização dos institutos jurídicos” que permitiriam a decretação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO), Estado de Defesa ou Estado de Sítio, em relação ao desfecho das eleições.

Além disso, ele relatou ter estado no Palácio da Alvorada em 7 de dezembro de 2022, a convite do então ministro da Defesa, Paulo Sergio Nogueira. Durante esse encontro, o assessor especial da Presidência, Filipe Martins, teria “lido os ‘considerandos’, que seriam os ‘fundamentos jurídicos’ da referida minuta de decreto” com conteúdo golpista.

Já Baptista Júnior afirmou aos investigadores que o ex-presidente consultou a Advocacia Geral da União (AGU) sobre uma “alternativa jurídica” para contestar o resultado das eleições de 2022. Esta conversa ocorreu em uma reunião no Alvorada em 1 de novembro de 2022, logo após o segundo turno do pleito em que Bolsonaro foi derrotado.

“Bolsonaro perguntou ao AGU se haveria algum ato que poderia fazer contra o resultado das eleições”, relatou Baptista Júnior à PF. O então advogado-geral da União, Bruno Bianco, respondeu que as eleições haviam “transcorrido de forma legal” e que “não haveria alternativa jurídica para contestar o resultado”.

“Depoimentos à PF trazem a biópsia da tentativa de golpe de Bolsonaro”, diz Kennedy alencar

Na última sexta-feira (15), durante o “RedeTVNews”, o jornalista Kennedy Alencar disse que os depoimentos dos ex-comandantes das Forças Armadas à Polícia Federal (PF) trazem a biópsia da tentativa de golpe do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e mostram o golpismo recreativo de alguns militares ao seu redor: 


Depoimentos divulgados por Alexandre de Moraes trazem a biópsia da tentativa de golpe de Bolsonaro e mostram o golpismo recreativo do general Freire Gomes e do brigadeiro Batista Jr. Há o detalhamento e o calendário da tentativa de golpe.

Os depoimentos destroem a defesa de Bolsonaro e seus fascistas. O rigor do STF ao julgar os atentados de 8 de janeiro sinaliza para penas na casa dos 20 anos. Além de Bolsonaro, ficam mal na foto Anderson Torres, Braga Netto, Paulo Sérgio Nogueira, Felipe Martins, Eduardo Pazuello e Carla Zambeli, entre outros.

Temos até o jurista do golpe, Ives Gandra da Silva Martins, cumprindo papel que foi visto em 64 e 68. A atuação de Freire Gomes não é heroica, mas omissa e covarde.

Batista Jr. diz que, se o Exército tivesse concordado com proposta de Bolsonaro, teria se consumado o golpe. Ora, Exército não foi feito para dar golpe. As Forças Armadas não são tutoras da vida civil, da democracia.

Vimos comandantes das Forças Armadas indo ao Alvorada, cinco ou seis vezes, segundo Batista Jr., para ouvir ordem manifestamente criminosa, o que é proibido pelo Código Penal Militar.

Freire Gomes deu a letra porque a Polícia Federal investigou e Mauro Cid delatou. Não houve golpe porque a sociedade civil não aceitaria. Não havia apoio internacional, como em 64. As instituições que cumpriram o seu papel foram a PF, o TSE, o STF. Os eleitores cumpriram o seu papel. No entanto, as Forças Armadas mostraram que continuam contaminadas pelo golpismo.

Se Freire Gomes tivesse cumprido a Constituição, não teria havido o 8 de janeiro. Tolerou acampamento golpista. Assinou nota golpista. Recusou-se a participar de cerimônia de transmissão de comando no governo Lula.

Boa parte da imprensa está batendo palma para o golpismo recreativo. Em 2022, um desqualificado sentado na cadeira de presidente da República tramou um crime contra o país. Perto dos 60 anos do golpe de 64, é preciso ser vigilante em defesa da democracia.

Assista abaixo:


Fonte: DCM

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